
O julgamento foi fatiado, dividido em duas votações a pedido da
oposição e por determinação do presidente da sessão e do STF, Ricardo
Lewandowski. A primeira decidiu pela perda do mandato. Em contrapartida,
a segunda votação, em que foi colocada em questão a perda ou não dos
direitos políticos, foi concluída com a vitória de Dilma. Seus algozes
não conseguiram a maioria necessária para condená-la (foram 42 votos a
36, com três abstenções).
O resultado, eloquente e emblemático da crise de consciência de um
grande número de senadores, é mais uma prova da inocência da presidenta,
que ao contrário dos golpistas e beneficiários da farsa encenada no
Congresso Nacional, não é alvo de nenhuma suspeita, denúncia ou
inquérito relacionado à corrupção. O voto de 54 milhões de brasileiros e
brasileiras foi anulado e substituído por uma eleição indireta feita
por um colégio eleitoral restrito em que a maioria é acusada por
envolvimento em processos de corrupção.
Pior que 1964
Livrar Temer e seus comparsas da cadeia é um dos objetivos do golpe
que em parte já foi alcançado. Uma vez efetivado como presidente, o
chefe da conspiração não pode ser alvo de investigação penal pelo menos
até o fim do mandato, a não ser por crimes que venha a cometer no
exercício da função. Agora o governo trabalha nos bastidores para livrar
a cara do deputado Eduardo Cunha e impedir que venha a se transformar
num perigoso e explosivo delator.
Mas isto não é tudo. O conteúdo principal do golpe é dado pelo
caráter profundamente reacionário do projeto governamental, que consegue
ser bem mais nocivo aos interesses da nação e seu povo do que o de
1964. “Foi um golpe de classe”, denunciou com muita propriedade o
senador Lindbergh Farias. Urdido, com forte apoio do empresariado e da
mídia burguesa, para satisfazer os interesses dos grandes capitalistas e
das potências imperialistas.
Seus alvos são a classe trabalhadora, que corre o risco de perder
direitos trabalhistas e previdenciários conquistados ao longo de uma
luta multissecular, a democracia, mais uma vez desprezada pelas classes
dominantes, e a soberania nacional. Os EUA já se apressaram a reconhecer
o governo golpista e não escondem a satisfação com as medidas
anunciadas e já em curso para saciar seu apetite imperialista: a mudança
radical da política externa, agora voltada contra a integração e
governos progressistas da América Latina, sob a liderança do golpista e
testa de ferro Zé Serra Chevron. Foram agraciados ainda com a entrega do
pré-sal ao capital estrangeiro, e o resgate da política de
privatizações e do pesadelo neoliberal recorrentemente derrotados nas
urnas.
A CTB reitera sua firme oposição ao governo ilegítimo emanado do
golpe e a disposição de lutar com todas as suas forças e na mais ampla
aliança democrática e popular contra a execução do projeto golpista, em
defesa do interesse maior da nação e dos sagrados direitos da classe
trabalhadora. Continuaremos resistindo, ocupando as ruas e gritando a
todo pulmão: FORA TEMER.
Adilson Araújo, presidente nacional da CTB