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quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Dezenas de pessoas “abraçam” o Atheneu e clamam por reforma urgente na escola


Roberto Campello


Às vésperas de completar 179 anos de existência, no dia 3 de fevereiro de 2013, a Escola Estadual Atheneu Norte-rio-grandense sofre com o abandono e descaso do poder público. A escola mais tradicional do Rio Grande do Norte hoje está em ruínas, caindo aos pedaços e sem previsão de reforma. Diante dessa situação foi criado o movimento ‘Salve o Atheneu’, formado por alunos, ex-alunos, professores, funcionários e simpatizantes da causa. Na manhã desta terça-feira (20), dezenas de pessoas se reuniram em frente à escola e realizaram um abraço simbólico à instituição. Este foi o primeiro passo na luta por melhorias pela escola e pela educação do RN. O movimento uniu a nova geração e ex-alunos que estudaram na instituição nos tempos áureos da escola.
De acordo com Naldemir Saraiva, pedagoga, bibliotecária e presidente da Associação dos Ex-Alunos do Atheneu, a associação foi reativada, após 21 anos sem atividades, como forma de divulgar a real situação da escola e cobrar melhorias dos órgãos competentes para “evitar que o Atheneu morra”, com ações não apenas para a instituição, mas também para a educação do Estado.
“Através do Atheneu surgiu a educação do Estado, que surgiu a política também, pois grandes nomes de prestígio da política local e nacional passaram pela escola. E também foi a partir do Atheneu que surgiu a imprensa, através do jornal O Natalense, feito pelo próprio fundador da escola, Basílio Quaresma Torreão. Por todos esses motivos e pela importância histórica, cultural e referência de ensino não podemos deixar que o Atheneu seja vítima do descaso público”, destacou a presidente.
Naldemir Saraiva conta que há dois anos começou a denunciar os problemas enfrentados pela escola, como janelas e portas quebradas, paredes com infiltrações e com rachaduras. Os problemas pelos quais o Atheneu passa são inúmeros e começam na entrada da escola. A fachada do prédio está descascando, possui rachaduras e os bancos estão quebrados. A presidente da Associação conta que a situação piora ao entrar no prédio. Praticamente todas as 21 salas apresentam algum tipo de problema. Algumas estão com as portas quebradas, outras com os vidros das janelas quebrados, um perigo para os estudantes.
“Denunciamos para que o Atheneu passe a ser visto de outra maneira e que as autoridades tenham coragem de fazer algo pela escola. Mas, nesses dois anos de luta nada foi feito. Escutamos apenas promessas. A própria governadora visitou a escola no início do ano, prometeu uma grande reforma, mas nada fez. Queremos que o Atheneu volte a ser referência na qualidade de ensino, com atividades culturais e recreativas”, afirmou Naldemir Saraiva.
A presidente da Associação dos Ex-Alunos do Atheneu conta que o abraço simbólico realizado na manhã de hoje foi apenas o primeiro passo na luta pelo resgate da escola. Naldemir conta que os próximos passos serão audiências com a governadora Rosalba Ciarlini e com a secretária de Educação, Betânia Ramalho. “Espero que essa união de forças em prol do Atheneu e a reação da sociedade que se fez presente neste evento possa sensibilizar as autoridades a resolver os problemas da escola”, afirmou Naldemir Saraiva.
Kátia Azevedo estudou no Atheneu na década de 70. Formou-se em Letras em 1985 e no ano seguinte retornou à ‘casa’ e começou a lecionar no Atheneu, inicialmente Português, depois Inglês e Espanhol.  Hoje ela é aposentada, mas ao todo, foram 25 anos dedicados à instituição de ensino, que ela fala com amor e carinho. “O Atheneu foi minha primeira casa durante 25 anos, pois passava mais tempo aqui do que na minha própria residência. Presenciei várias transformações no Atheneu que vai de uma escola forte com apoio governamental para hoje uma escola abandonada. Para quem dedicou um terço da vida a escola, é muito triste ver o Atheneu agonizando por socorro, mas ainda há esperança e sabemos que é possível resgatá-lo”, afirmou.
A curiosidade por uma escola histórica que abriu nomes de relevância nacional, como Luís da Câmara Cascudo, Daladier da Cunha Lima, Wilma de Faria e Café Filho, que chegou a ser presidente da República, levou as estudantes Kaline Cordeiro, 17 anos, e Keila Santos, 15 anos a querer estudar na escola. “Mesmo com todos os problemas, que sabíamos que existiam, queria fazer parte de uma escola tão importante para a história do nosso Estado e não estou arrependida de ter escolhido o Atheneu como minha escola. Vale a pena se engajar numa luta dessa por melhoria, pois a escola merece”, disse a estudante Kaline Cordeiro, do 2º ano do Ensino Médio.
Atualmente a escola possui 1,8 mil alunos divididos nos turnos matutino e vespertino. Desde 2011 que o turno da noite não é oferecido. O motivo é a falta de alunos. “Há dez anos a realidade era outra totalmente diferente. Tínhamos quase quatro mil alunos e funcionávamos nos três turnos”, destacou. Ela conta que o laboratório de Biologia está desativado, o de Informática funciona em apenas um horário e o laboratório de Química e Física foi transformado na cozinha da escola. “Mesmo com todos esses problemas, o Atheneu tem um contexto e importância histórica que não pode ser esquecida nem abandonada. Sempre defenderemos o Atheneu, pois sabemos o potencial e o que a escola ainda pode oferecer à comunidade”, afirmou.
A falta de estrutura física da escola não se resume aos corredores e salas de aula. Outro ponto bastante crítico são os espaços destinados à prática de esporte. Segundo os estudantes, no ginásio, que fica nos fundos da escola, os refletores estão com problemas e o teto com goteiras. “Quando chove, o ginásio mais parece uma piscina de tanta água acumulada. Fizeram uma cotinha e nós conseguimos comprar redes para as traves, apitos e cartões porque não tem nada na escola”, disse Gustavo Freire, estudante do 2º ano do Ensino Médio.
Reforma
A Secretaria de Estado da Educação também participou do abraço simbólico ao Atheneu. De acordo com a secretária Betânia Ramalho, o Governo havia planejado reformar o Atheneu e outras grandes escolas de Natal este ano, com recursos próprios, mas priorizou o pagamento do reajuste de 63,77% concedido aos professores, o que comprometeu a capacidade de investimentos da Seec.
“Considerando que os recursos para investimentos foram aprovados pelo Plano de Ações Articuladas (PAR), do Governo Federal, a reforma do Atheneu será realizada em 2013. A escola não é reformada há mais de 10 anos e precisa passar por uma verdadeira reforma, bem completa, o que exige um investimento muito alto.”
Betânia Ramalho diz que os problemas da escola vão além da infraestrutura. “Já estamos trabalhando também para melhorar o pedagógico. E nesse ponto precisamos do comprometimento total dos professores e da direção, pois a Secretaria sozinha não é capaz de resolver os problemas de gestão da escola e dos conteúdos curriculares, responsabilidade do corpo docente”, pontua a secretária.
Ela ressalta que em 2012, foram implantadas no Atheneu, em parceria com a Escola Agrícola de Jundiaí, da UFRN, 22 turmas do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e ao Emprego (Pronatec), do Governo Federal, atendendo a mais de 500 alunos da escola. Através dele, a Secretaria de Educação tem oferecido aos alunos do Atheneu cursos de inglês, eletricista predial, informações turísticas, atendente de nutrição, auxiliar administrativo, cuidador de idoso, agente de combate a endemias, operador de águas e efluentes e técnico em guia de turismo. “A implantação desses cursos foi um passo importante para começarmos a reverter o quadro que encontramos no início da gestão”, destacou a secretária.
Betânia Ramalho diz ainda que as conversas com a nova diretora da escola, Severina Targino, eleita no último dia 13 de novembro, já foram iniciadas. Estão sendo discutidas melhorias no processo de Ensino e Aprendizagem dos alunos do Atheneu e para isso é decisivo o envolvimento da direção, dos professores, alunos e familiares.
“Vamos implantar um grande programa de resgate do prestígio do Atheneu. Aqui eu faço uma convocação para que, juntos, Governo do Estado, comunidade escolar, ex-alunos, entidades interessadas e sociedade em geral, possam contribuir para o resgate do valor histórico que o Atheneu tem para a Educação de Natal e do Rio Grande do Norte. A Secretaria de Estado da Educação está engajada nesse propósito, mas a luta é de todos, pois foram muitos os anos de abandono”, concluiu Betânia Ramalho.
Além do Atheneu, escolas tradicionais de Natal como Winston Churchill, Anísio Teixeira, Varela Barca, Francisco Ivo Cavalcanti e Padre Miguelinho deverão ser reformadas e com intervenções pedagógicas para elevar a qualidade da Educação.

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