Pela intensidade e constância dos ventos que ocorrem no litoral potiguar, o Rio Grande do Norte é considerado como o que reúne as melhores condições para produção de energia eólica. Atualmente, o estado tem três parques eólicos em operação (Parque da Petrobras em Macau, Rio do Fogo e Alegria I em Guamaré), que, juntos, possuem capacidade instalada para produzir 140 Megawatts (MW). Esse número, porém, vai aumentar substancialmente com a entrada em operação, nos próximos anos, dos projetos contratados nos leilões federais de 2009, 2010 e 2011.
“Em termos de energia contratada, nossa potência instalada vai ser a soma dos leilões de 2009 (657 MW), 2010 (1.064 MW) e 2011 (458,2 MW). Mesmo tendo perdido a liderança para o Rio Grande do Sul no último leilão, nenhum outro estado vai alcançar a potência instalada do Rio Grande do Norte”, explicou o coordenador de Energia da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico (Seedec), o engenheiro mecânico José Mário.
Os investimentos previstos para os próximos anos, com a instalação de novos parques, ultrapassam os R$ 6 bilhões. Esses dados, por si só, demonstram nosso potencial de geração desse tipo de energia renovável. Pensando nisso, um grupo de pesquisadores universitários, gestores públicos e empresários, sob coordenação da Fapern (Fundação de Apoio e Pesquisa do RN), planeja criar o Instituto Internacional de Tecnologia em Energia Eólica (IITEE).
Foto: Arquivo Nominuto.com
O objetivo é formar uma rede de pesquisadores para desenvolver tecnologia e transformar o Rio Grande do Norte numa referência nacional e internacional em recursos humanos. Assim, o estado terá mão de obra capacitada para fazer frente à demanda técnica e científica que será criada com a expansão do números de parques eólicos.
Nos últimos dias 29 e 30 de agosto, pelo menos 70 pessoas de diversas instituições participaram do 1º Workshop para formação de redes cooperativas em tecnologias e pesquisa em energias eólicas integradas aos setores empresariais, realizado no Hotel Escola Barreira Roxa, em Natal. Além da troca de conhecimento, o encontro serviu para definir a minuta do projeto final do instituto. O IITEE deve começar a desenvolver suas atividades ainda este ano, mas a sede própria só deve ficar pronta em dois ou três anos.
Enquanto isso, os trabalhos serão realizados em laboratórios da UFRN (Universidade Federal do RN), Ufersa (Universidade Federal do Semiárido), Uern (Universidade Estadual do RN), IFRN (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do RN) e o CT-GÁS (Centro de Tecnologia do Gás e Energias Renováveis).
A Fapern está à frente do processo de criação do instituto, estabelecendo as PPP’s (Parcerias Público Privadas) e fazendo a ponte com as universidades. Para a diretora da Fundação, Bernardete Cordeiro, o estado tem que se “apropriar” do potencial eólico para “gerar as ferramentas tecnológicas” usadas no setor.
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Clóvis Oliveira, professor do Departamento de Engenharia Elétrica da UFRN.
O professor do Departamento de Engenharia Elétrica da UFRN, Clóvis Oliveira, explicou que a ideia do instituto nasceu do diagnóstico da demanda de mão de obra especializada que será gerada pela ampliação dos parques eólicos. A rede de cooperação – informou – terá a participação de pesquisadores e especialistas das instituições citadas anteriormente e também das Universidades Federais de Pernambuco, Minas Gerais, Pará, Ceará, Paraíba e Santa Catarina, UnP (Universidade Potiguar), Sebrae (Sistema Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), Fiern (Federação das Indústrias do RN) e de empresas da Dinamarca e da Espanha.
Clóvis disse que o instituto vai captar recursos do governo federal, através do Ministério da Ciência e Tecnologia, mas o projeto é que o IITEE seja autossustentável. “O workshop mostrou que o Rio Grande do Norte tem pessoas com competência, experiência, publicações, defesas de dissertações e projetos concluídos e em andamento no setor de energia eólica”, comentou.
O professor contou que há poucos especialistas em energia eólica no estado porque a imensa maioria dos profissionais que atuam em parques eólicos é oriunda de cursos tradicionais (Engenharias Elétrica, Mecânica, Civil e Automação). Há somente uma especialidade nessa fonte energética no CTGAS, oferecido em parceria, através de convênio, com a UFRN. A universidade, entretanto, tem dois grupos que desenvolvem pesquisas nesse ramo.
O primeiro é dedicado à otimização e supervisão de sistemas elétricos e é desenvolvido pelo DCA (Departamento de Computação e Automação) e pelo Departamento de Engenharia Elétrica. O segundo grupo é da Engenharia Mecânica e tem como foco o estudo da modelagem do vento (desenvolvimento de modelo matemático que permite simular o vento com auxílio da computação e fazer previsões).
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O professor explicou que, mesmo que haja flutuação para mais ou menos na ocorrência dos ventos, é possível, com esses estudos, prever a geração dessa fonte energética durante o ano, dando segurança a possíveis investidores.
Ele defendeu que a criação do instituto vai gerar um “ambiente favorável para atrair empresas satélites” e, assim, beneficiar principalmente os municípios onde se instalarem os parques eólicos.
Em relação ao impacto sobre a arrecadação tributária, os dados ainda não permitem afirmar que o desenvolvimento da indústria eólica vai beneficiar o estado, isso porque o ICMS – imposto cobrado sobre esse tipo de serviço – é cobrado no local de consumo, não de produção. “Como não há garantia que o consumo vai aumentar no Rio Grande do Norte, não é possível dizer que a arrecadação de ICMS vai crescer com a expansão dos parques eólicos”.
O professor Clóvis Oliveira ponderou que, mesmo sem a garantia de impactar a arrecadação de ICMS, a entrada em funcionamento dos futuros parques eólicos vai atrair investimentos para o Rio Grande do Norte e influenciar positivamente a geração de empregos.
“Cada vez vai ser mais caro produzir energia. O Rio Grande do Norte precisa aproveitar bem esse potencial de geração de energia limpa e renovável para atrair investimentos e gerar benefícios sociais e econômicos”, argumentou.
Essa também é a opinião de José Mário (Seedec), para quem a arrecadação de ICMS não é o principal viés do programa de expansão da energia eólica no RN. “É preciso olhar a questão por outra perspectiva, como a geração de emprego, a interiorização do desenvolvimento e a atração de fabricantes. A montagem de atividades perenes, como a fabricação de equipamentos, vai provocar benefícios que vão além do processo de implantação dos parques eólicos”, completou.
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