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quinta-feira, 19 de julho de 2012

Não falta dinheiro, falta compromisso

AQUI SE PERCEBE O MOTIVO PELO QUAL O PISO SALARIAL DOS PROFESSORES NÃO É NENHUM FAVOR; ALÉM DISSO, PAGAR O PISO É CUMPRIR A LEI.

Por Jair Ribeiro e Ana Maria Diniz(com adaptações pelo professor Renier Luiz)
  
A qualidade da educação pública no ensino fundamental e médio é de longe o maior desafio que o Brasil enfrenta. Somos um país em que cerca de 50% das crianças da 5a série em todos os Estados são semianalfabetas. Dos 3,5 milhões de alunos que ingressam no ensino médio, apenas 1,8 milhão se formam. Desses, só 10% atingem o nível esperado de aprendizado. O Brasil apresenta um dos cinco piores resultados entre os 56 países avaliados pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico. Isso significa que, todo ano, jogamos milhões e milhões de adolescentes despreparados no mercado de trabalho, sem nenhuma perspectiva de ascensão social e econômica.
O apagão de mão de obra já é uma realidade hoje. Será muito pior no futuro.
Há mais de oito anos coordenamos uma ONG que promove a parceria entre escolas públicas e empresários – a Parceiros da Educação. Já desenvolvemos, ao longo desse período, mais de 100 parcerias com escolas, procurando sempre melhorar a qualidade de ensino delas. Além do impacto nas escolas parceiras, o contato direto com a realidade do ensino público nos trouxe uma visão bastante clara dos enormes desafios do sistema e, com isso, a oportunidade de entender e influenciar políticas públicas que poderão, aí sim, ter impacto na vida de milhares de escolas e milhões de crianças.
 Não é difícil concluir que o modelo de ensino brasileiro tem falhas. As estatísticas mostram isso. Precisamos de uma verdadeira revolução na educação pública. Os Estados Unidos a fizeram em 1870, há 140 anos. Em uma década, eles dobraram o investimento na educação pública e universalizaram o ensino. Em 1900, eliminaram o analfabetismo. Em 1910, todas as crianças tinham acesso à escola de período semi-integral. Outro exemplo é a Coreia. Na década de 1970, a Coreia iniciou uma verdadeira transformação na qualidade da educação pública e fez dela prioridade. O resultado se mostrou pelo salto do Produto Interno Bruto (PIB), indicador da geração de riquezas. O PIB, antes inferior ao do Brasil, passou para patamar semelhante ao de países de Primeiro Mundo em menos de duas gerações. O exemplo mais recente é a China. Muito se propagandeia sobre os investimentos em infraestrutura, mas pouco se divulga sobre o enorme esforço educacional chinês, do primário ao curso de doutorado. É fantástico o que estão fazendo na China em termos de educação.
A fórmula para melhorar a educação não tem mistério. Em educação, há muita pesquisa sobre o que funciona e o que não funciona. Primeiro, é preciso que a sociedade entenda que há deficiências e cobre do poder público. Uma das razões pelas quais o país apresenta um dos piores índices do mundo na qualidade do ensino público é que há certa satisfação da população com a educação pública em geral, na medida em que existem escolas disponíveis para todas as crianças. A população, em sua maioria (notadamente a menos favorecida e titular do maior número de votos), não reconhece a péssima qualidade de nossa educação.
O primeiro passo, portanto, consiste em dar ampla divulgação à real situação da qualidade da educação básica no país, alertando a população para as mudanças de base necessárias à correção do problema.
O segundo passo é que cada Estado e prefeitura definam uma nova visão para sua Secretaria da Educação. Mas que seja uma visão arrojada, ambiciosa, que inspire seus stakeholders a sair do gerúndio e a efetivamente buscar um salto qualitativo na realidade de nossas escolas[...]
Investir nos professores – a qualificação desses profisisonais é o fator que mais influencia no aprendizado dos alunos. Por isso, é preciso atualizar os cursos de pedagogia para que os professores, mais que dominar o conteúdo, estejam habilitados a conduzir atividades em sala de aula. Em paralelo, há que promover a contínua capacitação dos atuais professores, gestores e pessoal de apoio em geral, voltada para a realidade da sala de aula, do laboratório, da gestão da escola, da biblioteca, do ambiente escolar. Devem ser oferecidos aos professores materiais estruturados, com práticas de gestão em sala de aula e conteúdo nos moldes dos bons sistemas de ensino.
o magistério público atualmente é uma das carreiras menos atraentes: o salário inicial é baixo, faltam perspectivas, há problemas de infraestrutura nas escolas e a profissão está desvalorizada socialmente. Pesquisas sugerem que os melhores professores abandonam a carreira nos primeiros cinco anos de trabalho.
Para mudar esse quadro, faz-se necessário que o salário inicial seja mais atraente. É importante também que o professor se dedique em período integral a uma única escola. Com isso, ele teria mais tempo para preparar as aulas e dar apoio aos estudantes no contraturno.
 Por fim, é fundamental recuperar a imagem da profissão. Países como Cingapura e Inglaterra fizeram (e fazem continuamente) grandes esforços de marketing e relações públicas para projetar a profissão na sociedade. A Inglaterra conseguiu, em cinco anos, a partir de reformas estruturais e divulgação maciça, levar a profissão de professor da 90a entre as mais desejadas pelos estudantes para o quinto lugar.
Podemos e temos de sonhar em transformar nosso sistema de ensino num dos melhores do mundo. Dinheiro não falta. Faltam sim vontade política e competência. Precisamos colocar a educação como prioridade absoluta de Estado.

Continue lendo: revistaepoca.globo.com/ideias/noticia/2012/06/nao-falta-dinheiro-falta-compromisso.html

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